Como posso ser batizado no Espírito Santo?

O batismo no Espírito Santo é herança para todos os crentes em Jesus, nascidos de novo, homens e mulheres de todas as idades e classes sociais enquanto a igreja peregrinar na face da terra. O apóstolo Pedro deixou isso claro na pregação no Dia de Pentecostes em Atos 2.16-21; 38,39. É uma promessa divina que continua valendo na atualidade.

O que é ser batizado no Espírito Santo?

A expressão “batizado no Espírito Santo” e fraseologia similar aparecem sete vezes no Novo Testamento, quatro vezes nos evangelhos (Mt 3.11; Mc 1.8; Lc 3.16; Jo 1.33), duas em Atos (At 1.5; 11.16) e uma em Paulo (1Co 12.13). O batismo no Espírito Santo é uma experiência espiritual do crente com o Espírito de Deus separada da conversão, na qual ele entra em uma nova fase em relação ao Espírito Santo. De todas essas passagens bíblicas, somente uma expressa uma ideia iniciática, 1 Coríntios 12.13, razão porque inúmeras traduções da Bíblia empregam a expressão, “batizado por um só Espírito”, ou “pelo mesmo Espírito”, ao invés de “no mesmo Espírito”. Isso distingue esse versículo dos demais. O meu livro “O verdadeiro pentecostalismo” (CPAD) traz no capítulo três uma avaliação exegética dessa passagem paulina como também uma lista das versões da Bíblia que traduzem “por um só Espírito” e fraseologia similar.

“Batizar no Espírito Santo” ou “ser batizado no Espírito Santo” é um termo conhecido dos cristãos desde a antiguidade faz parte da linguagem dos seguidores de Jesus, leigos e teólogos, pentecostais e não pentecostais. O batismo no Espírito Santo é um revestimento de poder do Alto como capacitação para testificar de Jesus: “Mas vocês receberão poder, ao descer sobre vocês o Espírito Santo, e serão minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até os confins da terra” (At 1.8 – NAA). Jesus falou isso para Seus discípulos ao subir ao céu, e essa promessa se cumpriu com a descida do Espírito Santo no Dia de Pentecostes. O que isso significa? Que o batismo é para os crentes, de modo que é erro teológico considerar batismo no Espírito Santo como sinônimo de conversão. Há no Novo Testamento inúmeros exemplos dessa verdade. Os samaritanos convertidos no avivamento de Filipe em Samaria foram depois batizados no Espírito Santo com a chegada dos apóstolos Pedro e João, quando eles impuseram as mãos sobre os crentes (At 8.14-17). O apóstolo Paulo já havia se convertido ao Senhor Jesus quando foi batizado no Espírito Santo (At 9.17). Há abundante evidência dessa distinção entre ser batizado no Espírito e a experiência da conversão no Novo Testamento.

Como posso ser batizado?

Não existe no Novo Testamento um padrão rígido que devemos praticar para que o Senhor Jesus batize no Espírito Santo. Deus é soberano e age como quer (1Co 12.11). Todos os registros bíblicos dos que foram batizados mostram que as coisas aconteceram “de repente” como em Pentecostes (At 2.2). O Espírito veio posteriormente, de forma inesperada, sobre as pessoas (At 8.24-27; 10.44-47; 19.1-7). Esse fenômeno acontece ainda hoje e todos nós somos testemunhas disso.

O que acontece com frequência em nossas igrejas é a busca do batismo depois da conversão. O irmão e a irmã que já se arrependeram de seus pecados e exercem fé em Jesus precisam buscar o batismo com perseverança e esperar que a Promessa se cumpra. Isso pode acontecer dentro de alguns dias, semanas, meses e anos. Eu recebi o batismo um ano depois de que aceitei Jesus. Participava de todas as vigílias e também, sempre que possível, estava orando com as irmãs no Círculo de Oração. Mas, também conheci muitos que receberam antes disso, e outros, muito anos depois. A minha filha foi batizada na infância, num derramamento do Espírito numa reunião de oração das crianças, onde todas foram batizadas, e o meu filho, na adolescência.

William J. Seymour, o principal líder do Avivamento da Rua Azusa, reconhecido pela maioria dos historiadores do Movimento Pentecostal como o fundador do pentecostalismo moderno juntamente com Charles F. Parham, seu professor, que lecionava na Escola Bíblica de Topeka, Kansas, onde se iniciou o pentecostalismo moderno em 1º. de janeiro de 1901, primeiro dia do século 20, testemunhou que orou cinco horas por dia durante dois anos e meio antes de conhecer Parham, e depois disso o Espírito Santo disse: “Ore mais”. Ele já orava cinco horas por dia. O que ele fez? Aumentou o tempo de oração para sete horas por mais um ano e meio.1 O livreto da CPAD “História do Avivamento Pentecostal de Azusa Street” conta que, no dia em que Seymour recebeu o batismo no Espírito, 12 de abril de 1906, às quatro horas da madrugada, ele havia orado a noite toda. Seymour pode ser considerado um caso à parte, pois ele estava sendo preparado para a grande obra da Rua Azusa. Mas, ele pode ser usado como exemplo de perseverança. Todos devem ser constantes e nunca desanimar (Lc 11.13; 18.1). É importante o crente saber que o quando e como pertencem a Deus.

Como posso saber que fui batizado?

Essa é uma pergunta interessante. O Novo Testamento tem a resposta. No Dia de Pentecostes, estavam ali cerca de 120 discípulos e discípulas, entre eles os apóstolos (At 1.12-15), e o Espírito Santo desceu sobre eles. Então, informa o texto: “Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia que falassem” (At 2.4). Há três sinais que mostram a ação poderosa e especial do Espírito Santo por ocasião de sua descida no Dia de Pentecostes: o som como de um vento (At 2.2), a visão das línguas repartidas como fogo (2.3) e o falar em línguas (2.4). Os dois primeiros sinais nunca mais se repetiram. O falar em línguas, sim.

O falar em línguas é o modelo bíblico para todos os crentes e em todos os lugares. Esse sinal se repetiu na vida da igreja do período apostólico. Como o apóstolo Pedro e a sua comitiva souberam que Cornélio e os seus receberam o Espírito Santo? Sem dúvida alguma, o sinal foram as línguas. É isso que o texto bíblico afirma: “E os fiéis que eram da circuncisão […] admiraram-se, porque também sobre os gentios foi derramado o dom do Espírito Santo, pois eles os ouviam falando em línguas e engrandecendo a Deus” (At 10.46). O derramamento do Espírito Santo na casa de Cornélio e no Dia de Pentecostes é o batismo no Espírito Santo (Mt 3.11; At 1.4, 5; 11.15-17).

Outro exemplo das línguas acompanhando o batismo é o testemunho dos 12 discípulos na cidade de Éfeso: “E, quando Paulo lhes impôs as mãos, o Espírito Santo veio sobre eles, e tanto falavam em línguas como profetizavam” (At 19.6).

Há outros exemplos no Novo Testamento como os samaritanos em Atos 8, embora não apareçam as línguas. Mas, como se sabe que o Espírito Santo veio sobre eles? O mesmo pode ser dito sobre o apóstolo Paulo: as línguas não são mencionadas, mas ele foi cheio do Espírito Santo e ele mesmo testifica que falava mais línguas que todos os crentes de Corinto (1 Co 14.18).

O batismo no Espírito Santo é uma experiência espiritual que ocorre após ou junto à regeneração (At 9.17; 10.44-48) e capacita os crentes para testemunhar de Jesus para a expansão do Evangelho e para edificação espiritual (Lc 24.49). O falar em línguas é a evidência física inicial desse batismo, mas somente a evidência inicial, “pois há evidência contínua da presença especial do Espírito como o ‘fruto do Espírito’ (Gl 5.22) e a manifestação dos dons” (“Declaração de Fé das Assembleias de Deus no Brasil”, Rio de Janeiro: CPAD, 2017, p. 165).


¹ Apud. HYATT, Eddie. “2000 anos de cristianismo carismático – Um olhar do século 21 na história da Igreja a partir de uma perspectiva carismático-pentecostal”. Natal, RN: Editora Carisma, 2019, p. 181. LAKE, John G. “Spiritual hunger/The God-Men”. Dallas, TX: Christ for the Nations,1980, p. 13.


Esequias Soares é pastor da Assembleia de Deus em Jundiaí (SP), presidente da Comissão de Apologética Cristã da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB) e 2º vice-presidente da Sociedade Bíblica do Brasil (SBB). Graduado em Letras, com habilitação em Hebraico pela Universidade de São Paulo, e Mestre em Ciências da Religião pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, é professor de Hebraico, Grego e Apologia Cristã; autor de diversos livros e comentarista de Lições Bíblicas da CPAD.

Fonte: Artigo extraído Jornal Mensageiro da Paz, Ano 91 – Número 1628 – Janeiro de 2021