A Atualidade da Promessa: O Batismo no Espírito é para Hoje

Quando ouviram isso, ficaram muito comovidos e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: — Que faremos, irmãos? Pedro respondeu: — Arrependam-se, e cada um de vocês seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos seus pecados, e vocês receberão o dom do Espírito Santo. Porque a promessa é para vocês e para os seus filhos, e para todos os que ainda estão longe, isto é, para todos aqueles que o Senhor, nosso Deus, chamar” (Atos 2.37-39, NAA).

As palavras acima são parte do sermão pregado por Pedro no Dia de Pentecostes logo após o Espírito Santo ter sido derramado sobre os primeiros cristãos (At 2.1-4). Pedro expõe à sua aturdida plateia, que buscava uma explicação lógica para os fatos ali ocorridos, que o fenômeno pentecostal por eles presenciado era na verdade o cumprimento de uma antiga promessa dada por Deus a Seu povo. Deus havia prometido através do profeta Joel derramar o seu Espírito sobre toda a carne (Jl 2.28).

Em sua pregação, Pedro destaca a abrangência dessa promessa divina, dizendo que ela se estendia “a todos aqueles que o Senhor chamar” (At 2.39). Não há dúvida de que essas palavras destacam em primeiro lugar a universalidade da promessa, no sentido de que é extensiva a todos os povos, bem como a sua atualidade, quando a põe numa dimensão escatológica. A promessa, portanto, seria para todos aqueles que em todas as épocas responderiam ao chamado de Deus. Ou seja, a exposição apostólica coloca a promessa pentecostal como sendo algo sempre atual.

Foi essa a bandeira levantada pelos primeiros cristãos. Vemos isso acontecer logo após a incursão do evangelho entre os samaritanos, conforme o registro de Lucas no capítulo 8 de Atos dos Apóstolos. Quando os apóstolos em Jerusalém souberam da resposta positiva que os samaritanos deram ao Evangelho, logo enviaram para lá Pedro e João com a missão específica de orarem por eles para que “recebessem o Espírito Santo” (At 8.14,15). Da mesma forma, vemos Paulo impondo as mãos sobre um grupo cristão da cidade de Éfeso para que eles também recebessem o Espírito Santo (At 19). Tendo Paulo lhes imposto as mãos, as Escrituras dizem que “tanto falavam em línguas como profetizavam” (At 19.6).

A perda na crença na atualidade da Promessa

Biblicamente falando, não há o que questionar quanto a atualidade da bênção pentecostal. A atualidade da promessa pentecostal é uma assertiva bíblica. A sua não atualidade é que faz parte de um questionamento posterior.

A. Monaci Castagno (2002, p.256) demonstra que, ainda bem cedo, na Patrística, os carismas passaram a ser vistos apenas como um privilégio da Igreja Primitiva. Não demorou e, ainda no século II, se chegou à conclusão de que os carismas eram um privilégio apenas do clero, e não de todos. Esse distanciamento da Promessa ficou ainda maior quando, na Idade Média, os carismas passaram a ser cada vez mais um privilégio do monaquismo e de quem possuía uma vida asceta. Agostinho (354-430), bispo de Hipona, passou a ensinar que os dons eram um privilégio da igreja apostólica.

A Igreja Católica da Europa Ocidental oficialmente continuou negando a possibilidade dos dons espirituais. Até o ano 1000 d.C, o livro litúrgico “Rituale Romanorum” explicava a um sacerdote em que casos era necessário o exorcismo de demônios:

“Os sinais da possessão são os seguintes: a habilidade de falar com certa facilidade em uma língua estranha ou para entendê-la quando outro a fala; a faculdade de revelar o futuro e o desconhecido; demonstração de poderes que estão fora do normal para a idade e a condição natural do sujeito; e diversos outros indícios que, quando se consideram de maneira conjunta, são provas mais do que suficientes” (Anderson, 2019, p.34).

Foi esse o cenário pintado durante toda a Idade Média.

A redescoberta da atualidade da Promessa

Com o advento da Reforma em 1517, houve uma renovação teológica, mas quase nada mudou em relação à antiga visão já calcificada concernente a cessação dos dons espirituais. Praticamente todos os reformadores eram cessacionistas. Somente com os movimentos restauracionistas, mais especificamente os que ganharam corpo e forma no século XIX, é que há uma mudança acentuada na compreensão da atualidade dos carismas. O Movimento Pentecostal é confluência desse entendimento.

Donald Dayton (2012, p. 7)mostra esse fato em um antigo documento escrito em 1913 pela Confraternização Pentecostal Norte-americana. De acordo com esse texto, intitulado de “a afirmação da verdade”, “durante a Reforma, Deus utilizou Martinho Lutero e a outros para restaurar no mundo a doutrina da justificação pela fé (Rm 5.1). Mais tarde, o Senhor usou aos irmãos Wesley e a outros que pertenciam ao grande Movimento de Santidade para restaurar o evangelho da santificação pela fé (At 26.18). Depois disto, usou a diversas pessoas para restaurar o evangelho da cura divina por meio da fé (Tg 5.14,15) e a doutrina da Segunda Vinda de Cristo (At 1.11). Agora, o Senhor está utilizando muitos testemunhos dentro do grande Movimento Pentecostal para restaurar o evangelho do Batismo com o Espírito Santo e com Fogo (Lc 3.16; 1.5) e os sinais que o seguiriam (Mc 16.17,18; At 2.4; 10.44-46; 19.6; 1.1.28-31). Graças a Deus, agora temos pregadores do evangelho completo” (Dayton, 2012, p.7).

O Movimento Pentecostal, portanto, surge como a restauração de uma verdade do Novo Testamento que havia sido esquecida – a doutrina do Batismo no Espírito Santo e com Fogo! Os pentecostais acreditavam fazer parte de um momento escatológico onde a Segunda Vinda de Jesus se aproximava, e que Deus estava capacitando a Sua Igreja nos últimos dias para cumprir sua missão final. Esse pensamento, na verdade, já vinha ganhando corpo nos ministérios, por exemplo, de pregdores como D.L Moody, R. A. Torrey e A. J. Gordon.

Com o irrompimento do Pentecostalismo nos Estados Unidos a partir da Escola Bíblica de Topeka, do Avivamento da Rua Azusa em Los Angeles e do mover pentecostal em Chicago, espalhou-se pelo mundo a convicção à luz da Bíblia de que o Batismo com o Espírito Santo é uma Promessa ainda para hoje, sempre atual.

Os pioneiros pentecostais lançaram-se ao campo missionário com essa missão: convencer o mundo de que Jesus salva, cura e batiza com o Espírito Santo. Essa era a missão dos suecos Gunnar Vingren e Daniel Berg, pioneiros do Movimento Pentecostal no Brasil, quando aqui chegaram. Berg (2018, p.57) , por exemplo, conta que ele e Vingren estavam imbuídos da missão de pregar a “verdade do batismo com o Espírito Santo e da cura divina que Jesus pode realizar em nossos dias”. Como os pioneiros pentecostais, temos crido e testemunhado que a Promessa é para hoje!


NOTAS
ANDERSON, Alan. “Uma introdução ao pentecostalismo: cristianismo carismático mundial”. São Paulo, Loyola: 2019.
BERG, Daniel. “Enviado por Deus: memórias de Daniel Berg”. Rio de Janeiro: CPAD, 2018.
CASTAGNO, A. Monaci. “Dicionário Patrístico e de Antiguidades Cristãs”. Vozes/Paulus, Rio de Janeiro: 2002.
DAYTON, Dons. “Raízes Teológicas do Pentecostalismo”.Natal: Carisma, 2018.


José Gonçalves é pastor da Assembleia de Deus em Água Branca (PI), vice-presidente da Comissão de Apologética da CGADB, graduado em Teologia e Filosofia; professor de Grego, Hebraico e Teologia Sistemática; comentarista de Lições Bíblicas da CPAD e autor de vários títulos lançados pela Casa.

Fonte: Artigo extraído Jornal Mensageiro da Paz, Ano 91 – Número 1628 – Janeiro de 2021