A Promessa do Batismo no Espírito Santo

Na última reunião conjunta da Mesa Diretora da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB) e do Conselho Administrativo da Casa Publicadora das Assembleias de Deus (CPAD), ocorrida em dezembro de 2020, foi aprovada uma proposta para o novo ano de 2021, que visa a reacender a chama pentecostal com o slogan: “A Promessa: É Para Vós e Vossos Filhos”. A proposta foi aprovada unanimemente por todos os participantes do conclave. O objetivo é impregnar as convenções estaduais e todas as igrejas com esse slogan. Sem sombra de dúvida, a fé pentecostal será reavivada com a convicção da promessa que não estagnou no tempo.

A crença de que “A Promessa” não ficou restrita ao seu cumprimento apenas no primeiro século é fortalecida com a consciência de que “A Promessa” continua a ser cumprida na atualidade. O texto básico para o entendimento desse tema é Atos 2.39: “Porque a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos e a todos os que estão longe: a tantos quantos Deus, nosso Senhor, chamar”.

A promessa relativa ao derramamento do Espírito Santo no Antigo Testamento foi lembrada pelo apóstolo Pedro, durante a sua prédica no Dia de Pentecostes, após a grande efusão do Espírito no cenáculo. O apóstolo citou a passagem do livro do profeta Joel (Jl 2.28-32) que remonta cerca de 800 anos antes de seu cumprimento no Dia de Pentecostes. Ao citar essa narrativa, Pedro afirmou que a experiência vivida pelos 120 discípulos dentro do cenáculo era o cumprimento da promessa de Deus

A predição profética do Batismo no Espírito Santo

Um dos sinais anunciados pelos profetas do Antigo Testamento, alusivo ao fim dos tempos para judeus e gentios, era o derramamento do Espírito Santo em grande profusão sobre os seres humanos. A profecia de Joel cumpriu-se no Dia de Pentecostes e de maneira espetacular. Observamos que dois profetas, em especial, profetizaram acerca desse derramamento do Espírito.

O profeta Isaías foi um desses porta-vozes que previu o derramamento do Espirito em um tempo especial. Ele viveu no 8º século antes de Cristo e o Senhor concedeu-lhe uma mensagem profética que indicava o futuro, especialmente do povo judeu, considerando que o profeta falava para Israel. O texto de Isaías 44.3 diz: “Porque derramarei água sobre o sedento e rios, sobre a terra seca; derramarei o meu Espírito sobre a tua posteridade e a minha benção sobre os teus descendentes”. Na época de Isaías, as manifestações do Espírito eram esporádicas e não aconteciam por efusão. O Espírito era outorgado sob medida. Na profecia de Isaías, a promessa contém a palavra “derramarei”, que significa profusão, e esse derramamento prometido se cumpriria no tempo apropriado.

Joel é considerado um dos profetas menores, mas seu livro reserva grande importância histórica no cumprimento das profecias que ele emitiu, especialmente para seus conterrâneos hebreus. Observemos no capítulo 2 e versículos 28 e 29 de sua profecia o que se segue: “E há de ser que, depois, derramarei o meu Espirito sobre toda a carne, e vossos filhos e vossas filhas profetizarão, os vossos velhos terão sonhos, os vossos jovens terão visões. E também sobre os servos e sobre as servas, naqueles dias, derramarei o meu Espírito”. No episódio de Cornélio, quando Pedro viu que o Espírito não se restringia apenas aos judeus, entendeu que a promessa alcançava todas as pessoas, inclusive de outras nações. Mediante a obra expiatória de Cristo no calvário, o Evangelho da Graça de Deus escancarou-se para todo o mundo.

Na Era Neotestamentária (NT), a promessa foi confirmada nas palavras de outro profeta: João Batista. Desde a promessa do profeta Joel, mais de 500 anos haviam se passado. Então surge, um profeta diferenciado, portador de uma mensagem contundente e que batizava a todos os que confessavam seus pecados. A mensagem de João Batista continha um anúncio revolucionário. Ele anunciava a todos os que lhe ouviam, dizendo: “E eu, em verdade, vos batizo com água, para o arrependimento; mas aquele que vem após mim é mais poderoso do que eu, cujas sandálias não sou digno de desatar; ele vos batizará com o Espirito Santo e com fogo” (Mt 3.11). O profeta anunciava Jesus como o batizador no Espírito Santo que viria depois dele.

O Senhor Jesus disse aos seus discípulos: “Eu rogarei ao Pai e ele vos dará outro consolador” (Jo 14.16,17). Depois de sua morte e ressurreição, o Nazareno apareceu aos Seus discípulos e ordenou-lhes: “Ficai em Jerusalém até que do alto sejais revestidos de poder” (Lc 24.49). Contando 10 dias antes do Pentecostes, no dia da Sua ascensão aos céus, o Filho de Deus alertou pela última vez aos discípulos, dizendo-lhes “que não se ausentassem de Jerusalém e esperassem a promessa do Pai” (At 1.4). Jesus disse mais: “Recebereis a virtude do Espirito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra. Logo depois ele foi elevado às alturas e uma nuvem o recebeu, ocultando-o aos seus olhos” (At 1.8).

A promessa do Pai apresentava a garantia do próprio Jesus, porque Ele mesmo enviaria o Espírito Santo não muito depois daqueles dias.

A Promessa do Pai é para todos os crentes em Cristo

Por duas vezes Jesus falou aos Seus discípulos sobre “A Promessa do Pai”. A primeira vez, depois da Sua ressurreição, o Senhor apareceu aos discípulos e detalhou instruções sobre a missão que receberam de anunciar o arrependimento em Seu nome, em todas as nações, começando por Jerusalém (Lc 24.47). A segunda vez, após 40 dias passados desde o Calvário, ao falar sobre o Reino de Deus, Ele os conduziu ao monte onde foi elevado de forma sobrenatural às alturas até a presença do Pai, e lembrou aos discípulos que receberiam a Promessa do Pai, dizendo: “E eis que sobre vós envio a promessa de meu Pai” (Lc 24.49). Na continuação do versículo 49, Jesus lhes deu a ordem para que ficassem em Jerusalém “até que do alto fossem revestidos de poder”.

Pela narrativa bíblica, entendemos que o fenômeno, que ocorreria 10 dias depois, ou seja, a experiência do Pentecostes, é uma experiência subsequente à obra de salvação que os discípulos já haviam experimentado.

A promessa a que Pedro se referia em seu sermão à multidão, atraída pelo movimento no cenáculo com os discípulos que haviam sido batizados no Espírito Santo, foi o que se cumpriu na vida daquelas 120 pessoas, contudo ela não se restringia apenas a eles, mas para todos quantos recebessem Jesus como Salvador em todo o mundo (At 2.38,39). Portanto, “a promessa” é para todos os crentes em Cristo, isto é, todos os convertidos.

A teoria de que o batismo no Espírito Santo faz parte da experiência da salvação nega a experiência subsequente à conversão. Se assim fosse, os discípulos de Jesus teriam sido salvos apenas depois do Pentecostes, quando foram batizados no Espírito Santo.

Vários textos bíblicos comprovam que os discípulos eram convertidos pelo modo como Jesus os tratou por várias vezes. Por exemplo, Ele lhes disse: “Eu sou a videira, vós os ramos” (Jo 15.5), e “vós já estais limpos pela palavra que vos tenho falado” (Jo 15.3). Em sua oração ao Pai, Jesus disse: “Não são do mundo, como eu do mundo não sou” (Jo 17.16). Num episódio especial, quando reuniu 70 discípulos e os enviou às cidades, vilas e aldeias, para anunciar o Reino de Deus e curar o povo dos seus males, ao voltarem felizes pelos milagres realizados, Jesus lhes disse: “Alegrai-vos, antes, por estar o vosso nome escrito nos céus” (Lc 10.20). Jesus os considerava convertidos já antes da experiência do Pentecostes. Quando Pedro fez a confissão de que Jesus era o Cristo, ouviu Jesus dizer-lhe: “Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue quem te revelou, mas meu Pai que está nos céus” (Mt 16.17).

Quando Jesus entendeu que Sua missão de preparar Seus discípulos para a obra que fariam posteriormente havia chegado ao seu ponto culminante, no primeiro dia após sua ressurreição, à tarde, Jesus apareceu àqueles homens encerrados dentro de uma casa por temerem os judeus e mostrou-lhes as mãos furadas e o lado ferido pela lança, e eles constataram que era, de fato, o seu Mestre, e todos se alegraram. Jesus, então, lhes falou: “Paz seja convosco! Assim como o Pai me enviou, também, eu vos envio a vós. E havendo dito isso, assoprou sobre eles, e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo” (Jo 20.21,22). Eles receberam o Espírito, mas não foram batizados no Espírito Santo. Logo, eles já eram convertidos antes do Pentecostes.

Elienai Cabral é pastor, 1º secretário da Mesa Diretora da CGADB, consultor doutrinário e teológico da CPAD e comentarista de Lições Bíblicas.

Fonte: Artigo publicado no Jornal Mensageiro da Paz, Ano 91 – Número 1630 – Março de 2021